- Área: 290 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Diego Medina
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Fabricantes: Alumia, Cariló Ingeniería, Cermat, El Holandés, Marmolería del Sur, MasterGAS, Pasalto, Plastigas, Sagitario, Santini
“A música inventa o silêncio, a arquitetura inventa o espaço.”
Octavio Paz
Um tereno plano localizado em um bairro fechado a oeste de Pinamar abre-se em forma de leque de leste a oeste. Alguns pinheiros novos atuam como filtro entre o lote, os vizinhos e os campos da Geral Madariaga - do outro lado da Rota Provincial 11. Esses foram os primeiros dados de projeto para uma casa de veraneio que busca propiciar encontros e diálogo, já que durante as férias os espaços são utilizados de forma mais distendida, os sentidos estão mais despertos e a contemplação do entorno se transforma em uma experiência enriquecedora.
Dois volumes - aparentemente monolíticos - sobrepostos, cruzados e apoiados sobre uma plataforma, configuram a moradia. Elevada sobre o nível médio do lote, a residência "domina" o entorno e acentua seu caráter de observatório. Os volumes cruzados garantem vistas diferentes nos dois níveis: abaixo a oeste e acima ao norte. A disposição do programa garante assim uma correta exposição solar em todos os ambientes.
O projeto entende e promove a necessidade de encontros. AYYA finalmente é organizada ao redor de um pátio com piscina que, como um espelho d'água, reflete e multiplica os efeitos das luzes naturais.
No térreo, a moradia se fecha na parte frontal, buscando privacidade, negando o ritmo próprio do bairro e potencializado a abertura oeste. O espaço interior é diluído quando a residência se abre através das venezianas, o que gera grandes espaços mistos onde o "exterior" e o "interior" são misturados ao mesmo tempo em que o tamanho aparente da casa é aumentado. Como um jogo de opostos, a residência se transforma em volumes, divisórias e laje de cobertura que servem de limite para o espaço. A ruptura da laje sobre a sala de estar/jantar atua como um "funil", do espaço maior ao menor - na transição entre exterior e interior. Sobre a cozinha e a saída da mesma, o espaço "esculpe" a caixa de concreto para conectar-se ao restante do volume.
A viga sobre o térreo é projetada diante da necessidade de liberar a sala de estar de todos os elementos verticais (pilares) uma vez que se expande para o terraço. A viga em balanço termina em uma rede pendurada. A hierarquização desse elemento - além da composição - demonstra o espírito da vida nas férias: marcando a importância da contemplação em seu aspecto lúdico.
No nível superior, um volume contem a sala de jogos e dormitórios sobre a plataforma, gerando assim a sombra necessária para as atividades exteriores. A parte frontal é estendida buscando integrar-se ao bairro - aquele que o térreo nega - ao mesmo tempo em que parece voar sobre a planta de acesso por falta de apoios. Esse balanço maciço gera estranheza e se mistura entre as árvores, estendendo a casa para a paisagem. Um pouco mais abaixo, outro balanço em forma de pergolado se relaciona com o primeiro e confere escala ao espaço exterior: um plano etéreo, calado, que se "estica" até a rua projetando sombras. Desde o aspecto funcional, ele também funciona como escudo solar para os veículos.
O passar do tempo e o percurso do sol qualificam o espaço enriquecendo a experiência sensorial. Os pergolados no concreto filtram o sol e projetam sombras que se manifestam percorrendo superfícies horizontais e verticais.
Os ambientes são definidos por seu tamanho, são neutros e não possuem materiais de revestimento. Essa lógica de "não-determinação" dos espaços procura a apropriação flexível da moradia por parte do usuário. As marcas das fôrmas e sua controlada imperfeição são assumidas como acertos construtivos: estrutura, cor e textura se confundem, acentuando o caráter.
Todos os materiais foram selecionados para reduzir a manutenção ao mínimo possível, entendendo que a ação do clima sobre eles não é outra coisa senão uma continuação do processo construtivo. As divisórias de concreto armado são preenchidas com placas de poliestireno expandido no seu interior - as quais são colocadas e ajustadas durante o processo de cofragem, já que o concreto é derramado de uma vez só.
Os materiais manifestam o que são, evitando acabamentos superficiais. A operação construtiva e o material de construção estão definitivamente presentes na obra. O concreto armado, sem artifícios, voa sobre o terreno e se apoia em uma plataforma, contrastando com a casa típica do bairro e caracterizando-se como um elemento contundente e tão radical como a paisagem campesina. A moradia se transforma em um auditório para contemplar cada entardecer. Talvez essa seja sua maior virtude: captar o espírito do campo, onde a cada tarde "cai o sol".